quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Eclesiastes 2

Tudo é ilusão
Disse a mim mesmo: "Vamos, torna-te alegre e desfrute tanto quanto puderes."
  Mas achei que isto também era inutilidade. Porque é imbecil andar a rir todo o tempo; de que serve isso? Assim, depois de ter pensado bem, resolvi tentar a via da bebida, ainda que continuando firmemente interessado na busca de sabedoria. Depois, alterei de novo o meu rumo e segui o caminho da loucura, para poder experimentar a única felicidade que muita gente tem em toda a sua vida. Tentei, seguidamente, realizar-me pessoalmente, construindo para mim próprio casas, vinhas, jardins, parques e pomares, com tanques de rega para as plantações. Após isto, comprei escravos, homens e mulheres, e tive-os também nascidos na minha casa. Possuí grandes rebanhos de vacas e de ovelhas, mais do que qualquer outro rei antes de mim. Acumulei prata e ouro de impostos provenientes das províncias e também dos tributos que me pagavam muitos reis. Organizei igualmente coros de homens e de mulheres. Tive prazeres humanos. Além disso havia as minhas belas concubinas.
  Desta forma tornei-me maior do que qualquer rei antes de mim, governando em Jerusalém. E contudo, mantive a inteligência, de forma a poder dar o devido valor a todas estas coisas. Obtive tudo o que eu desejava, e não me privei de nenhuma alegria. Achei até grande prazer em executar pesadas tarefas. Este prazer foi, aliás, a minha única recompensa para tudo o que passei.
  Mas quando olhei para aquilo que tinha empreendido, dei-me conta de quanto era absurdo, superficial, e de que não havia nada debaixo do Sol que não fosse ilusório.
  
Comecei então um estudo comparativo das virtudes da sabedoria e da loucura; e qualquer outra pessoa chegaria às mesmas conclusões do que eu: a sabedoria é mais válida do que a loucura, tal como a luz é melhor do que as trevas. O sábio é alguém que pode ver; por outro lado o louco é um cego. Constatei também que há uma coisa que acontece tanto ao sábio como ao insensato: é que tanto morre um como o outro. Portanto, de que vale a sabedoria? Por isso me dei conta de que também o ser sábio é vão; porque tanto o que o é, como o insensato, ambos morrerão, e no futuro também ambos virão a ser esquecidos.
  
Eis a razão porque aborreço esta vida; é que tudo é tão irracional! Tudo é tão inútil como perseguir o vento. 

E aborreci sobretudo isto, que tenha de deixar todos os frutos do meu duro trabalho àquele que me suceder. E quem me garante a mim que ele será uma pessoa sensata e não um louco? Pois mesmo assim terei de lhe deixar tudo. É tudo isto que é ilusório.
  
Então a ideia de que tinha tanto trabalhado nesta terra fez-me desesperar; e voltei para a procura da minha satisfação pessoal, visto que gastei a minha vida procurando sabedoria, conhecimento e competência e que tenho de deixar tudo a alguém que em nada contribuiu para isso, que irá herdar todo o resultado do meu esforço sem ter pago o devido preço. Isto é não só absurdo como até injusto.
  
Que é afinal o que uma pessoa ganha de todo o labor que o fez penar? Apenas dias plenos de tristeza, amargura, fadiga e insónias. Não há dúvida que é algo que não tem lógica.

Portanto cheguei à conclusão que não havia nada melhor para o ser humano do que comer, beber e beneficiar do resultado do seu esforço, do seu trabalho. Constatei assim que é Deus quem lhe oferece este prazer, porque quem é que pode comer ou desfrutar da vida se não for concedido por ele?

Deus dá, a quem lhe agrada, sabedoria, conhecimento e alegria; mas se um pecador se tornar rico, Deus tira-lhe os bens e dá-os a quem quiser. Portanto aqui também vemos um exemplo do absurdo que é correr atrás do vento! 

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